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Eu pergunto
Querida amiga gosto muito de si, por vezes copio os seus textos porque me ajudam espiritualmente.
Você acha mesmo que podemos e devemos tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratadas?
Eu gosto de proceder desta forma, mas levo tanto tapa na cara. Como faço nestas situações?
Trato a pessoa da mesma forma?
BigFIVE responde
Querida amiga deixe-me dizer-lhe que admiro muito a sua atitude. Perguntar revela da sua parte em primeiro lugar vontade de aprender e de mudar, em segundo coragem para o fazer e por último comprometimento com o que pensa e diz.
Começo por dizer que há sempre uma diferença entre o que se deve fazer, a atitude mais correta, e aquela que somos capazes de realizar. Por outras palavras a forma como eu penso, sinto e ajo é válida para mim, sendo que cada um tem um modo que o caracteriza. Dizer que um tipo de comportamento tem mais vantagens não é, por si só, suficiente, embora isso possa ser verdade se nos estivermos a referir a vantagens e benefícios sociais a médio e longo prazo.
Todos os dias assistimos, nas redes sociais, à divulgação de pequenas frases que depois são partilhadas por todos os que se identificam com as mesmas. São, no geral, relativas a pensamentos, sentimentos e atitudes que infelizmente, na maior parte das vezes, não são o padrão de comportamento que caracteriza aquelas pessoas, ainda que em alguns casos possa ser.
Tal significa que ainda que eu me identifique com algo, até ser o meu padrão de comportamento vai uma longa distancia. A prova disso é que assistimos a graves incongruências quanto as ditas frases e/ou pensamentos são precedidas de reaçôes contraditórias relativamente a quem postou. Penso que isso, que aqui digo, não seja novidade para ninguém. Assim entre aquilo que se divulga, por identificação, e o que é realmente interiorizado e refletido no reportório de comportamentos, vai uma longa distância.
Colocar os ensinamentos de Jesus Cristo em prática pode ser um verdadeiro desafio ao nosso crescimento. Por vezes achamos não estar á altura do desafio que é ver o outro como igual, amar como a si próprio, tratar como se deseja ser tratado, são argumentos que se considera válidos no que a cada um de nós diz respeito. Já ter esta atitude em relação aos outros...
Embora eu possa afirmar que para mim é fácil colocar isto em prática, simples até, por ter já ultrapassado muitas das limitações do ego, a nível dos apegos ainda me falta evoluir muito. Assim o que posso deixar aqui são diretrizes, formas de ver as coisas, sugestões para treino.
Eu no meu exemplo trato os outros com o máximo do respeito, talvez por isso eu exija para mim um tratamento igual. Sinto muito amor próprio, por aquilo que sou, pelo que já conquistei, pelo que estou a tentar conquistar, por aquilo que sei que não consigo. Sei o que constituem os meus limites, a parte que não deixo transpor, aviso desde o inicio o que me incomoda, as pessoas percebem e não se excedem, por exemplo gerir o facebook é tranquilo para mim. Tento também não incomodar os outros. Só me lê quem quer, só me vê quem olha, o mesmo digo a quem partilha o que escrevo. Eu tenho tanta vontade de ajudar, pena que nem todos queiramos ser para os outros.
Conheço melhor do que ninguém as minhas dificuldades, as minhas distrações, as minhas incapacidades. Por esse mesmo motivo sou capaz de amar o outro, mesmo percebendo e observando as suas dificuldades e incapacidades. Perdoo faltas e erros e até quando me magoam, tenho consciência que de alguma forma tudo isso pode existir em mim, ainda que em áreas distintas.
Deste modo procedo com os outros, invariavelmente, da forma mais correta que conheço, ou mesmo sei. Claro que nem sempre os outros correspondem na medida que recebem. Mas eu insisto, insisto sempre, até porque existem relações que não tem como não insistir. São as relações que envolvem o cônjuge, filhos, pais, irmãos, colegas de serviço, chefias diretas, autoridades e forças de poder. São entidades com que temos de conviver, porque os amamos, outros porque a isso somos obrigados, outros porque temos de respeitar quer queiramos quer não. Convém então fazer um investimento ao nível do desenvolvimento pessoal para que as relações funcionem de uma forma sã, salutar, para o bem de todos. O melhor motivo, para mim, é poder ser sempre, pelo menos, um exemplo a seguir. Poderia optar por pensar - Os outros que deem o exemplo? - Porém se cada um se desresponsabilizar da função de educar, com quem é que se vai aprender a Ser?
A mim interessa-me sobretudo a amizade das pessoas, disse, digo e direi isso sempre. Todavia sempre existirão pessoas, provavelmente, a quem a minha amizade pode não interessar, agradar, ser conveniente, vá se lá saber os motivos. Pois se os há, que eu me lembre, só mo disseram uma vez, por escrito, matéria que encheu um dossier em jeito de comunicação unilateral. O caso até foi sui generis pois após uma pausa, de precaução, a convivência manteve-se na mesma e eu, talvez ingenuamente, até fico com a ideia que a pessoa simpatiza comigo. Pelo menos eu simpatizo com essa pessoa, apesar de ter ficado informada acerca do que ela pensa a meu respeito.
Sobre o que os outros pensam, dizem, insinuam sobre nós só a eles diz respeito, até porque nem sempre corresponde á verdade. O contrário é igualmente válido, o que cada um pensa acerca de si também nem sempre é autêntico, são questões que se prendem ao ego e ao facto de estar, ou não, em consonância com a realidade.
Também já desisti de amizades depois de insistir o que considero ser suficiente a uma adaptação, cada caso é um caso. Mas apenas o fiz relativamente a pessoas que percebo, nitidamente, não serem capazes de corresponder ao que considero respeito e, claro, amizade. E eu aceito que as pessoas tenham as suas opiniões e façam as suas próprias opções e escolhas. Nestes casos afasto-me, dou um espaço, mas espero sempre um regresso, caso contrário entendo. Mas deixo em aberto se, por um acaso, alguém quiser retomar a amizade, logo que perceba as regras da reciprocidade, aceito de volta. Foi a esta situação que Jesus Cristo chamou "dar a outra face", não é em sentido literal como se pode erradamente interpretar. Por que não? Afinal todos erramos, temos o direito de mudar de opinião, todos falhamos, de vez em quando, uns com os outros?! Saibam, no entanto, sempre corrigir o erro, que pedir desculpa é algo demasiado precioso para ser gasto.
Há determinadas relações que não podemos deixar morrer, mesmo que o modo de relacionar não seja propriamente bilateral. São as relações que pertencem à classe incondicional de pais para filhos, de filhos para pais. Ai há que insistir, e muito.
No caso de uma relação amorosa caso se perceba que existe ainda amor de ambas as partes, ainda que juntos pareçam um furacão, a relação bem trabalhada, com apoio profissional, provavelmente ainda tem muito para dar. Cada qual sabe o tempo suficiente para insistir numa relação, não é um tempo que eu possa dar. Mas um dia a pessoa percebe, sente, que já não dá mais e acaba-se, parte sempre de uma das partes, mais feliz quando a decisão é dos dois.
As relações de poder e autoridade e, também, as profissionais obedecem, por assim dizer, a hierarquias geralmente verticais. Tratando-se de relações horizontais as dificuldades podem ser ultrapassadas com o desenvolvimento de atitudes assertivas. Aliás, aos micaelenses costumo dizer que a assertividade é como o arroz doce e a massa sovada satisfaz toda a gente.
As relações verticais implicam sempre uma maior dificuldade, uma fórmula mais complexa. Ai a afirmação, mesmo com respeito, nem sempre se pode aplicar, pelo menos, no preciso momento da ocorrência. Por várias vezes tenho tido dificuldade de me afirmar naquilo que considero justo e verdadeiro, por o acontecimento se dar à frente de terceiros. Nestes casos não argumento à frente de outros, sob pena de desrespeito à hierarquia e desautorização de quem de direito ou poder, conforme o caso.
A máxima de que o elogio deve ser público e a critica privada deveria ser generalizada a todos, mas não é. E embora isto na teoria se aplique não é, de de todo, o que assistimos na prática. Imperdoável, quando vêm da parte de pessoas que deveriam ser referência na matéria. Perante uma situação assim logo se vê que a atitude mais assertiva é, sem dúvida, a submissa. Ainda que doa, e dói, os resultados a médio e longo prazo são sempre melhores.
Porém tratando-se de uma pessoa assertiva pode, na primeira oportunidade, imediatamente após a ocorrência solicitar para falar com a pessoa em privado e então afirmar aquilo que tem a dizer sobre o sucedido. A atenção deverá focar-se nas características da comunicação assertiva, isto é cordialidade, respeito, tom de voz adequado, linguagem clara e direta e protegendo da melhor forma a relação e o desejo de entendimento. Por vezes é útil demostrar àquela pessoa alguma emoção, contida, para que entenda que como igual que é, também sente emoções. Esta atitude procedida corretamente, normalmente resulta sempre em maior entendimento e respeito. O respeito também é exemplo quando vem de baixo.
Enfim mais do que um processo de treino, que é útil e necessário, imitar Cristo é um jeito de ser. Eu escolhi ser assim, fiz esta escolha há tanto tempo que já nem me lembro bem a época em que posso ter agido diferente. Sem dúvida que sinto uma enorme paz em ser esse tipo de pessoa, disponível e aberta aos outros. O meu maior trunfo é não ter medo de pessoas. O maior dom é ser uma creatura de amor.
Espero ter ajudado, mas se quiserem saber mais venham ao BigFive tomar um café comigo e conversamos acerca de tudo isso. Será um prazer.
Abraço de coração!
28-09-2017
Ana Rita Tavares
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Olá querida Ana gosto muito de ler os seus textos e mensagens sempre bonitas fico com vontade de ser melhor.
Quero ser amiga de pessoas que gosto e simpatizo mas o meu namorado não gosta e depois não me apoia, diz que vai deixar de gostar de mim, castiga-me não falando comigo ou chateando-se.
Se eu continuar a insistir com o tempo ele pode deixar-me?
Olá querida amiga fico muito feliz por apreciar a minha escrita, principalmente a parte que diz que isso a motiva a ser melhor. De facto é esse o intuito dos meus textos. Todos vimos a este mundo aprender sobre o amor e o bem, além de nos relacionarmos e trabalharmos para sobreviver. O homem não é mau por natureza, embora as questões de sobrevivência o possam levar a tomar atitudes egoístas. Tudo o resto advém da maldade que, tal como a bondade, se aprende socialmente. O mal é tão antigo quanto o bem, e isso tanto é verdade que têm coexistido ao longo do tempo.
Por vezes numa relação amorosa, o namorado(a) não aceita bem o parceiro(a) possuir um leque de amigos(as). E ainda que alegue que esse facto se deve ao muito amor que sente, convêm estar-se atento.
Alguém ser muito especial para nós, amar-nos e querer proteger-nos, tudo isso é muito aliciante nos primeiros tempos de um namoro. Mas com o tempo, o mais natural é que o ciclo se vá fechando e possa ser verdadeiramente perturbador e limitante,sentimos-nos aprisionados. Esse tipo de atitudes podem não ser percebidos logo no início do relacionamento. É natural sentir-se um bocadinho de ciúme, vontade de estar sempre juntos e partilhar o dia-a-dia. No entanto o natural é a relação evoluir para um período de maior estabilidade, maior confiança no outro, e perceber-se que cada um é um ser individual e que juntos é que formam o casal. O que não impede de, na ausência do outro, se respeitarem e terem muitos objetivos de vida em comum.
É verdade que as pessoas se acostumam aos parceiros e até é comum aceitarem resignadamente viver um circuito fechado, limitado e castrador. Mas, não sei porquê, algo me diz que no seu caso não quer seguir esta opção. Quando equacionamos perguntar e falar sobre um assunto abertamente, algo dentro de nós já está a implorar uma mudança. Além disso se sempre foi uma pessoa comunicativa e sociável, pode ter sido isso que o levou a apaixonar-se por si. Perante uma jovem diferente, triste e cabisbaixa, ainda que ele próprio não tenha consciência disso pode, com o tempo,revelar desinteresse e perder a atração que sente por si.
Já agora, vale a pena pensar nisso.
29-09-2017
Ana Rita Tavares